Trabalho para disciplina de Percepção Musical
Professora: Kelly Furlanettos Arte-Educação 2º Ano
Aluna : Lucineli Reffatti Bahls
Resumo do texto retirado do livro ''A Afinação do
mundo''
I - As primeiras paisagens sonoras
As primeiras vozes que se ouviu desde muito tempo
enquanto nada havia, eram os sons das águas. Quando estávamos dentro da barriga
de nossa mãe era os sussurros da água que ouvíamos. Todos os caminhos do homem
o levam as águas. A água é o fundamento da paisagem sonora. Alguns sons são
separados e outros contínuos, mas os sons das águas do mar se fundem, qualquer
visitante da orla marítima achará inesquecível o recital das ondas. O mar é o
som fundamental de todas as civilizações marítimas.
A água nunca morre, vive para sempre. A água da chuva que desce pelos riachos e
evapora se fazendo chuva novamente, são acordes doces de musica que descem as
montanhas. Os rios do mundo falam suas próprias linguagens. A água nunca morre,
e o homem sábio se rejubila com ela.
A geografia e o clima oferecem sons fundamentais
nativos a paisagem sonora, o gelo e a neve são afinados pela temperatura. Da
mesma forma que os povos marítimos tem sua linguagem de acordo com o som das águas,
os povos nórdicos em temperaturas abaixo de zero também desenvolvem sua
linguagem a partir dos sons do gelo e do clima frio.
Assim como a água, também o vento entre os antigos foi
divinizado. O vento e o mar ofere cem
muitas variações vocálicas, pois o vento
se apodera fortemente dos nossos ouvidos. A paisagem sonora está em toda parte,
cada floresta cada folha tem um som diferente, antes as florestas tinham sons
peculiares de seus moradores , depois vieram o sons dos lenhadores com seus
machados e o barulho de madeira caindo passou a fazer parte da paisagem sonora,
bem mais tarde as serras elétricas ecoam pelas florestas da América do norte.
Quando o homem sente medo por um ambiente desconhecido, inexplorado o seu corpo
inteiro se converte em ouvido.
O que é o som de uma árvore caindo na mata se não
tiver ninguém para ouvir? Pergunta um aluno de filosofia. Na verdade a árvore
que cai pode produzir o som que quiser.
Nos tempos primórdios qualquer coisa que acontecia
tinha sua explicação em milagres, tempestades
e terremotos estremeciam a terra, e o homem queria sair ileso as forças
da natureza.
Trovões e raios estão entre os sons da natureza que
mais assustam, os sons que produzem são de grande intensidade e cobrem uma extensão
extrema de frequências.
Cada paisagem natural tem seu próprio som que constituem marcos sonoros, os vulcões
da Islândia são um exemplo disso.
Mesmo onde não
há vida pode se ouvir som, como nos campos de gelo do Norte, também não há
silêncio debaixo da superfície da terra.
Não sabemos se na criação do universo tinha som ou
silêncio, mas os profetas usaram de imaginação para determinar que o fim do
mundo será com um forte estrondo, como jamais se ouviu igual. O que se sabe é
que na terra o som mais forte que já foi ouvido, foi a explosão da caldeira de
Krakatoa na Indonésia, onde a 4.500Km o
estrondo pode ser ouvido.
É difícil para um ser humano imaginar um som
apocalíptico, mas também é difícil imaginar um silêncio definitivo.
II- Os sons da
vida
A linguagem do canto dos pássaros tem sido tema de
muitos estudos, seja como for, nenhum som da natureza tem tanta ligação afetiva
com o ser humano como a vocalização dos pássaros. Assim como existem várias
espécies de pássaros, há também sonoridades vocais infinitas, algumas fortes como
o canto da curruíra, seu canto deixa uma forte sensação nos ouvidos.
Outros pássaros podem dominar as paisagens pela
quantidade, como a araponga, por exemplo, com seu som de sino ecoando sempre.
A vocalização dos pássaros tem sido muito estudada em
termos musicais.
Apesar dessa similidade com a música, os pássaros
cantam para eles mesmos, e mesmo que o homem tente decifrar seus códigos isto é
o que menos importa, pois os pássaros são o que são.
Cada canto da terra tem sua própria sinfonia de
pássaros, tão característico quanto a língua dos homens. Em Paris, nas
pastagens, em todos os cantos da terra há uma polifonia de canto, e de todos os
tipos, como já foi pesquisado tipos e
funções do canto dos pássaros.
Os pássaros podem ser reconhecidos pelo barulho que
fazem ao voar, alguns pássaros porém tem asas furtivas, as corujas voam em
silêncio.
Os sons mais irritantes que o homem conhece são deles,
os insetos. O pernilongo, as moscas, as vespas, as abelhas são facilmente
reconhecidos pelo seu zumbido peculiar. Mas um apicultor conhece bem o som que
as abelhas fazem, por exemplo, quando a colmeia sem a rainha está morrendo o
apicultor sabe.
Existem vários sons que os insetos podem produzir. Com
o bater das asas as moscas e zangões, as
térmitas que batem no chão produzem um som em uníssono, tem as cigarras que
possuem o som mais ruidoso.
Quando se tornam parte do calendário dos fazendeiros
tanto insetos como os pássaros, evidenciam-se na paisagem sonora.
As frequências que os insetos emitem estão entre 25 e
67 decibéis, mas o ouvido humano é sensível e consegue ouvir sons de tessitura
média e alta.
Para nossos propósitos, contudo, uma simples impressão
geral do som dos insetos é suficiente.
Não é o nosso propósito aqui catalogar todos os sons
da natureza, estudaremos alguns que estão entre os mais conhecidos. Existem
alguns peixes que possuem sons extremamente fortes e únicos.
O canto das baleias tem sido recentemente estudado, o
canto da baleia jubarte pode ser estudado com parâmetros musicais. Muitos crustáceos
também emitem sons.
Nos pântanos de muitas partes do mundo se ouvem canto
de sapos e rãs.
Podemos dizer que é impossível examinar todos os sons
produzidos pelos animais.
Os carnívoros produzem sons de maior tessitura,
sibilar e fungar é o som que a maioria dos felinos produz, o uivo dos lobos é isolado
e persistente.
Os sons produzidos pelos primatas, divertem o homem,
com gritos, renhidos e grunhidos, sendo
que alguns são bastante fortes.
Todos os sons de animais que vimos até agora nos mostra
o quanto a variedade de sons há na natureza e na fauna, vimos que todos os sons
tem na sua maioria relação com acasalamento, comunicação, alimentação e sons
sociais.
Não podemos ter dúvidas de que a língua dança e está
até hoje dançando com a paisagem sonora, a onomatopeia nos remete a paisagem
sonora.
Algum dia a linguística irá investigar as mais
primevas imitações humanas, e poderíamos acrescentar muitas palavras
interessantes como, por exemplo, o som que o espirro faz, porém, a paisagem
sonora é demasiado complexa para ser produzida pela fala humana.
III- A
paisagem sonora rural
O sistema hi-fi é aquele que tem um som,
ruído/favorável, a paisagem sonora hi-fi
é aquela em que os sons separados podem ser claramente ouvidos em
razão do baixo nível de ruído ambiental. Na paisagem sonora bi-fi os sons se sobrepõe menos frequentemente.
De um modo geral os pastos eram bem mais silenciosos
do que na fazenda. Os pastores tocavam flautas e se alegravam juntos, na
paisagem saliente do campo, os sons suaves da flauta emitem sons miraculosos.
Um tipo bem diferente de paisagem sonora é o som das
caçadas, chamados breves que tem a
finalidade de animar os cães de caça, uma fanfarra especial para cada
animal, canções ornamentadas para
iniciar ou finalizar uma caçada.
A trompa de caça nos oferece uma riqueza semântica,
pensemos neste som da trompa como um som arquétipo.
É outro som de característica semelhante, empregava um
código específico para indicar diversos tipos de correspondência bastante
usados na Inglaterra no séc. IXX anunciavam toques de chegada e partidas ou
perigos.
Assim todo o simbolismo da trompa de posta funcionava diferente
do da trompa de caça.
Comparada à paisagem sonora dos pastos a paisagem da
fazenda fornece um turbilhão de atividades sonoras, começando com cada animal
que tem seu próprio ritmo ao acordar e ao repousar.
Alguns sons são pesados, como os cascos dos animais do
campo, e outros leve como o bater da manteiga.
O som de acordes profundos emitidos pela chaminé, enfim os sons da fazenda são de maneira geral
únicos em seu contexto e podemos defini-los como sons regulares.
A paisagem rural era silenciosa antes da guerra e das
religiões. O som da guerra era metal e
ferro, e o que quero mostrar com isso é que embora a paisagem sonora natural
fosse silenciosa, era deliberadamente interrompida pelos ruídos aberrantes da
guerra.
Outra ocasião para o ruído era a celebração religiosa,
reunindo seus instrumentos, o homem
tentava chegar ao ouvido de Deus.
O mundo profano era quieto, silencioso, mas na festa
da primavera uma festa religiosa foram escutados os sons mais altos e fortes
durante as celebrações e danças.
Para cristandade o divino era sinalizado pelo sino da
igreja. Comparado as espetaculares celebrações da guerra e da religião, a vida
rural, ou mesmo a cidade pequena era
tranquilo.
IV- Do vilarejo a cidade
O sinal da igreja cristã mais significativa é o som do
sino. Foi durante o séc. XIV que o sino se uniu a uma invenção técnica, de
grande significado para civilização europeia: o relógio mecânico. Juntos eles
se tornaram os sinais mais inevitáveis da paisagem sonora porque, como o sino
da igreja, e mesmo com a mais implacável
pontualidade, o relógio mede a passagem do tempo de forma audível.
Antes da revolução industrial o trabalho estava
associado a canção, o trabalho industrial matou o canto.
Depois que a música arte entra para ambientes
fechados, a musica de rua passou a ser desprezada.
V- A revolução industrial
A paisagem sonora lo-fi foi introduzida pela
revolução industrial, e surge como um congestionamento do som.
Hoje o mundo sofre com esta superpopulação de sons. A
indústria têxtil foi a primeira, depois vieram muitas outras.
Por volta de 1864, os vilarejos franceses pululavam de
fábricas. No início do sec. XX os sons da tecnologia se se tornaram aceitáveis
para os ouvidos urbanos e finalmente os ruídos das máquinas passaram a
intoxicar o homem.
A paisagem sonora tanto na paisagem quanto no campo,
foi sendo transfigurada durante os sec. XVIII e XIX. O único momento em que as
máquinas eram paradas era para impressionar os visitantes da fábricas.
Durante a primeira fase da revolução industrial, a
incapacidade de reconhecer os ruídos é um dos fatos mais estranhos da percepção
auditiva. O ruído sagrado passou para o mundo profano.
Quando o poder do som é suficiente para criar um amplo
perfil acústico, podemos considerá-lo imperialista. O aumento da intensidade da
potência dos som, é a característica mais marcante da paisagem sonora
industrializada.
A linha contínua é outro efeito da industrialização,
quando os sons são projetados visualmente em um registro gráfico. A linha
contínua no som surge como um desejo de velocidade.
De todos os sons trazidos pela revolução industrial o
dos trens com o passar dos anos, se tornou puro saudosismo em comparação com os
sons dos transportes modernos, os dos trens eram ricos e característicos.
A máquina de combustão fornece hoje, o som fundamental
da civilização contemporânea, um volume de água é misturado a uma carga de carvão para dar energia.
Para o homem contemporâneo urbano, metade da força
descritiva da poesia se perdeu, e o mesmo está acontecendo com a paisagem
sonora, em que os sons da natureza estão se perdendo.
Em vez de se buscar soluções para o ruído do tráfego
aéreo, as linhas tem deixado cada vez mais o ouvido surdo.
O ruído tecnológico é alvo de crescente oposição e um
número cada vez maior deste tipo de ruído está sendo combatido pela legislação
relativa a redução de ruídos.
VI- A revolução
elétrica
A revolução elétrica ampliou muitos dos temas da
revolução industrial e acrescentou alguns novos efeitos. Duas novas técnicas
foram introduzidas, a do empacotamento e estocagem do som, e a do afastamento
dos sons do contexto original.
Um dos primeiros produtos da revolução elétrica, o
telégrafo involuntariamente traumatizou a contradição entre som separado e som
com contorno definido.
Os três mecanismos mais revolucionários da revolução
elétrica foram: o telefone, o fonógrafo e o rádio.
No principio todos os sons eram originais. Desde a
invenção do equipamento eletroacústico para transmissão e estocagem do
som, qualquer um deles por minúsculo que
seja, pode ser movimentado e transportado através do mundo ou estocado em fita
ou disco para as gerações futuras.
A dominação da vida moderna pelo rádio, não passou a
ser notada; mas, enquanto à oposição à revolução industrial, tinha vindo das
classes trabalhadoras que receavam a perda de seus empregos, os principais
oponentes do rádio e do fonógrafo foram os intelectuais.
O rádio introduziu a paisagem sonora surrealista, mas outros recursos eletroacústicos tem
influenciado sua aceitação.
As paredes existem para delimitar espaços físicos e
acústicos, para isolar áreas privadas visualmente e para impedir interferências
acústicas.
O Moozah começa com um grande motivo de paraíso
orquestrado, mas termina sempre como fluido perfumado do fastio terrestre. O Moozah foi resultado do abuso do rádio.
Na música diatônica ou modal, é a nota fundamental do
modo ou da escala que põe todos os
outros sons em relação.
A Revolução Elétrica, desse modo, deu-nos novos
centros tonais de primeira unidade em
relação aos quais todos os outros sons agora equilibrados.
VII- Música,
paisagem sonora e mudanças na percepção
A música forma o melhor registro permanente de sons do
passado. A música pode pertencer a duas espécies: absoluta e programática. N
música absoluta, os compositores modelam paisagens sonoras ideais da mente. A
música programática é imitativa do ambiente.
O imperialismo da música do séc. XIX atingiu seu ápice
nas orquestras de Wagner e Berlioz.
Quando a orquestra continuou a se expandir durante o
séc. XX, basicamente se acrescentaram instrumentos de percussão.
Naquele tempo a música ainda era algo para ser
apreciado.
No decorrer da história da produção de sons, a música e o ambiente tem legado numerosos efeitos um ao outro, e a era
moderna nos fornece exemplos notáveis.
O amplificador substituiu a orquestra como a última
arte para a dominação do espaço acústico.
Falamos do espaço acústico quando em um gráfico, representamos intensidade e frequência. O
tempo é a terceira dimensão para este espaço.
A ênfase dos efeitos graves na música popular
contemporânea tem seu paralelo nos sons ambientais de baixa frequência e talvez
tenha mesmo recebido estímulo do aumento generalizados desses sons.
Outro tipo de audição é produzido nos concertos, nos
quais a distância e a direcional idade estão ausentes, isto é, os de muitas músicas contemporâneas e
populares, assim como o dos aparelhos
estereofônicos nas salas de estar.
A notação é uma tentativa de substituir fatos
auditivos por fatos visuais. Já temos duas técnicas descritivas à nossa
disposição: podemos falar a respeito dos sons ou podemos desenhá-los.
É importante perceber que os dois primeiros sistemas,
são descritivos- eles descrevem sons que já ocorreram, enquanto a notação musical normalmente é
descritiva, ela dá uma receita para que
os sons sejam produzidos.
A notação musical foi a primeira tentativa sistemática
de fixar outros sons além dos da fala, e seu desenvolvimento ocorreu
gradualmente, por um longo período que se estende desde a Idade Média até o
séc. XIX.